por Fátima Pereira
Com a invenção da imprensa, pelo alemão Johannes Gutenberg, em meados do século XV, aconteceu uma verdadeira revolução midiática, criando um novo suporte, o livro podendo ser produzido para as massas, antes, os manuscritos eram para poucos. Com a possibilidade de atingir mais leitores, os escritores contratavam artistas para ilustrarem suas obras, tornando-as mais atrativas.
Literatura e arte fazem parte da educação estética do ser humano. Crianças, jovens, e até mesmo adultos, são atraídos por livros que estimulem a imaginação e os motive à leitura. Na literatura infantojuvenil há uma grande preocupação com a qualidade estética, não basta apenas um bom texto, mas sim um projeto gráfico bem estruturado, a ilustração não é apenas “enfeite”, mas sim, um elo de conexão entre o verbal e o visual. Nesse sentido texto e ilustração precisam dialogar com o leitor.
Um bom exemplo dessa conexão ocorre no livro A raiva, de Blandina Franco em parceria com o ilustrador José Carlos Lollo, editora Pequena Zahar, publicado em 2014. Brandina começou a escrever aos quarenta anos, Lollo (seu esposo) é diretor de arte premiado e descobriu o que mais gosta de fazer: ilustrar livros para crianças.
O entrosamento entre escritor/ilustrador é importante para a dimensão estética da obra.
O ilustrador utilizou a cor preta e nuances de cinza, sobre o fundo branco das páginas, representando cenas do cotidiano, a cor vermelha dá destaque à personagem-tema do livro: a raiva, representada como um “bichinho”, trazendo uma atmosfera sombria, como é esse tema. O estilo de Lollo é bem peculiar, traços soltos, usando várias técnicas.
Significado dos objetos visuais – “Na cultura humana, o vermelho ganhou diversos significados e simbolismos, representando sentimentos que vão da paixão à raiva” (Wikipédia). Não é por acaso que a imagem que representa a raiva é vermelha.
Ao tratar de um tema tão inerente ao ser humano, a narrativa mostra como ela começa, como se alimenta, cresce e toma conta de tudo. Essa dinâmica pictórica acompanha o crescimento desenfreado da personagem, a raiva cresceu, ficou maior que a cidade, mostrando seu domínio e força em nossa sociedade, e por fim, explode.
Em A raiva, percebe-se claramente a relação entre a palavra e a imagem, a integração entre linguagem verbal e visual trazem uma harmonia estética, tornando a leitura prazerosa, ao mesmo tempo reflexiva.