Quando se fala em biblioteca, provavelmente você pensa em um espaço repleto de livros, com muitas histórias emocionantes, personagens incríveis, lugares longínquos e muito mais.
E uma biblioteca onde em vez de livro, leem-se pessoas? Você consegue imaginar?
Esse é o conceito da Biblioteca Humana, “livro” e “leitor” literalmente conversando.
Um espaço onde pessoas com algo para contar, são como livros, à disposição de quem quiser lê-las, ou seja, conversar com elas. Geralmente são pessoas com histórias de superação, vencendo barreiras do preconceito, dos estereótipos impostos pela sociedade. Ambos saem modificados com o aprendizado: os protagonistas têm a oportunidade de se expressarem e os “leitores” podem fazer perguntas, conhecem outra realidade, aprendem a enxergar além, entender a diversidade, desafiar suas ideias pré-concebidas, sem julgar. Apenas uma coisa é necessária: pessoas dispostas a contar suas histórias e pessoas que querem ouvi-las. É um novo significado para aquela conhecida frase: “Sou um livro aberto”.
Tudo começou no ano 2000, em Copenhague, Dinamarca, quando Ronni Abergel teve a incumbência de oferecer uma alternativa não musical em um festival de música. O objetivo era reduzir a discriminação entre os jovens, celebrando a diferença e promovendo o diálogo, a tolerância, a compreensão em relação a pessoas de diferentes contextos sociais e culturais.
A ideia deu frutos e nasceu assim a Human Library Organization, uma organização internacional, sem fins lucrativos, com sede em Copenhague. Foi concebida como uma plataforma para promover o diálogo entre pessoasque normalmente nunca se conectariam umas com as outras. Essas reuniões puderam dar voz a cidadãos excluídos da comunidade por causa de sua condição social, econômica, política ou mesmo física. Atualmente o projeto já se espalhou por mais de 80 países, em todos os continentes, segundo a ONG.
Na Espanha, a biblioteca humana tem destaque no campo da saúde, os profissionais e alunos ouvem, perguntam e mudam de “livro”, para passar por todos os grupos. Nessa técnica, a pessoa “lida” recebe destaque, contribuindo no processo de empoderamento e na mudança de percepção dos titulares de responsabilidades e obrigações, participando da construção de uma cidadania ativa. Também há projetos que atuam na questão dos imigrantes e refugiados.
Já na Índia, com altas taxas de analfabetismo, pobreza e violência, além da grande diversidade cultural, a biblioteca humana ajuda as pessoas a se entenderem, a lutarem contra o preconceito, a enxergar o outro e a respeitá-lo.
Esses são apenas dois exemplos de como o projeto pode funcionar. Recentemente a ONG realizou um projeto piloto de Biblioteca Humana para crianças, que foi um sucesso instantâneo. Finalmente, uma biblioteca onde as crianças não precisavam ficar quietas e podiam perguntar livremente sobre qualquer assunto. Os jovens leitores de 6 a 12 anos podiam escolher conversar como “o menino que ouvia vozes (esquizofrenia)”, “a senhora que não podia ver (cega)”, “o homem que não andava (cadeirante)”, “a menina que comeu a solidão (bulimia), “a garota que não se parecia com os pais dela (adotada)” e “a garota que usava véu (muçulmana).
Interessante, não? Caso você conheça algum projeto parecido no Brasil, compartilhe deixando seu comentário.
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Foto: reprodução Internet