Marisa e suas Histórias Viajantes

Marisa Maia Mello levou sua paixão pelos livros e boas histórias para  além dos muros da escola. Professora, mediadora de leitura, escritora e contadora de histórias, ela transformou sua própria garagem em uma biblioteca para atender as crianças do bairro.  Tudo começou muito antes,  com  um projeto desenvolvido a pedido da prefeitura de sua cidade, a pequena Bom Jardim, no Rio de Janeiro, ao ser convidada para fazer parte de um projeto de incentivo à leitura, levando livros e contação de histórias para as escolas longínquas, em uma Kombi.

Tupiapá, a menina contadora de histórias Foto: Arquivo pessoal

A ideia era fazer algo impactante, então criou uma personagem, uma garotinha de cinco anos, contadora de histórias, Tipiapá  (“tia” na língua do Pê). Isso aconteceu no momento em que passava por uma depressão e foi incentivada pelo terapeuta a procurar uma  atividade que gostasse para se envolver. Segundo Marisa,  foi uma benção surgir esse projeto nessa fase, pois além de tornar-se uma contadora de histórias profissional, ajudou-a  em seu processo de cura.  As coisas acontecem no momento certo, completa.

Pela relevância e reconhecimento do trabalho desenvolvido, o projeto Histórias Viajantes recebeu Menção Honrosa pelo 2º lugar no Prêmio Ricardo Oiticica de Práticas Leitoras, na Categoria Oralidade, por se destacar  nas ações de incentivo à  leitura, concorrendo com projetos inscritos de várias cidades e estados do Brasil.

As crianças adoram interagir com a Tupiapá Foto: Arquivo Pessoal

Havia ainda o sonho de montar uma sala de leitura na escola onde trabalhava. Aliada à sua prática e à formação profissional, a professora desenvolveu inúmeros trabalhos em relação ao incentivo à leitura, na biblioteca de sua escola,  com o envolvimento de todos na equipe escolar, foi muito gratificante ver os frutos de seu trabalho e a certeza que estava no caminho certo.

Quando o projeto da prefeitura foi extinto, por conta de mudanças na administração pública, obteve a autorização de usar o nome Histórias Viajantes e continuar  por conta própria.

Ficaram os livros, mas sem um espaço para o projeto, não teve dúvidas, levou-os para sua própria casa, para oferecer às crianças do bairro a oportunidade de viajar pela leitura. Pensou em colocar uma caixa com os livros na garagem, o que seu marido não achou uma boa ideia. Ele era contra? Nada disso. Ele foi seu grande incentivador e colocou a mão na massa, transformando o espaço da garagem em uma Bibliogaragem.

Marisa, relembra emocionada daqueles dias,  a velha estante enferrujada foi pintada, a família ajudou, a vizinhança colaborou, todos unidos por uma boa causa. Como ela sempre diz, as  histórias não podem ficar paradas dentro dos livros, livros para não podem ficar na prateleira pegando poeira…

Inauguração da Bibliogaragem - Foto: Arquivo Pessoal

Assim, as histórias devem viajar, ajudar a formar leitores, estejam eles onde estiverem. No caso da professora, sua garagem virou um espaço de embarque nessa viagem maravilhosa que é a leitura. Professora experiente, assumir salas de leitura foi algo que já estava em seus planos, pois sempre fomentou a leitura em seu trabalho.

Para ela, a biblioteca tem que ser um espaço vivo, dinâmico, onde as pessoas têm prazer de estar, os livros vão ficando usados, isso mostra que são lidos, não adianta livros para ficarem em vitrines, os livros não são perenes. E quem trabalha em biblioteca precisa ser uma pessoa apaixonada pelo que faz, pois não é possível  formar leitores se não dar o exemplo, como fazer o aluno gostar de ler se o professor (a) não tem o hábito da leitura? Marisa vê essa questão como desafiadora em relação às bibliotecas escolares e às salas de leitura, pois em muitas escolas estes espaços  ainda são relegados a um segundo plano, ou ocupando espaços pequenos, que mais parecem depósitos de livros. Por sorte, conta ela, teve a oportunidade de trabalhar com pessoas que valorizam a leitura.

Marisa Maia nunca mais parou de contar histórias, seja na sua bibliogaragem onde desenvolve inúmeras atividades, seja em eventos literários.

Por conta da pandemia, os eventos foram suspensos, então Marisa conta histórias em seu canal no Youtube e participa de eventos pela internet.

Foto: Arquivo Pessoal

A contadora de histórias, que  desde pequena lia muito, inclusive rótulos de margarina, recorda dos tempos de escola, seu primeiro livro foi Memórias de um cabo de vassoura, de Orígenes Lessa, comprado com seu próprio dinheiro, por isso tão marcante.

Leitora ávida e trabalhando com educação e cultura, sua paixão deu frutos, ou melhor, sonhos. Participou de várias coletâneas, escrevendo contos e crônicas e em 2019 lançou o seu primeiro livro infantil, Um pé de sonho, pela editora Nitpress. Além de uma narrativa empolgante, o livro traz as belíssimas ilustrações de Marvin Ballot Blatter, encantando leitores de todas as idades.

Marisa conta que o tema desse livro surgiu a partir de um sonho recorrente que teve durante a juventude. Na verdade, era mais um pesadelo, que a incomodava muito. A ideia ficou guardada por anos, a história já estava esboçada e finalmente virou o livro.  O nome da personagem principal, Maria Luiza, é uma “desaglutinação” de Marisa, esclarece. No livro, ainda faz uma homenagem à sua avó, mulher sábia e que foi muito importante em sua educação, mesmo sendo analfabeta.

Marisa e seu livro - Foto: Arquivo Pessoal

Logo virão mais novidades e quem sabe um Pé de Sonho 2, diz Marisa.

Por enquanto está participando de projetos culturais e convidando  as crianças (e adultos também)  a viajarem pelo mundo mágico dos livros e das histórias.

Você aceita o convite?

Para conhecer mais sobre o trabalho de Marisa Maia de Mello:

Um pé de sonho

Autora: Marisa Maia de Mello

Ilustrador: Marvin Ballot Blattert

Ed. Nitpress



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